quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Bolsas femininas: uma verdade perigosa.

- Suma da minha vida; e leve este perfume barato que sempre me causou náuseas. Sim, eu menti; este perfume é uma porcaria !
- Mas, mas...
- Sem mas ! Desapareça !
Filho da puta, murmurou Lucrécia após bater a porta e em meio ao barulho da queda daquele cafona e amarelado quadro que há muito se equilibrava na parede ao lado da entrada do apartamento. No caso, da saída; irrevogável saída.
Preciso falar com alguém.
- Alô, é a Lucrécia. Dispensei aquele ordinário ! Nunca mais quero ver aquele...
- Calma, Lú, calma...
- Não estou nervosa; estou até feliz, diz Lucrécia assoando o nariz no papel toalha, em meio a lágrimas.
- Então pára de chorar !
- Não estou chorando, é rinite.
- Ah tá, então é isso; o Calógeras era um ácaro na tua vida. Sem essa, Lú.
- Não debocha.
- Lú, eu estou com um paciente. Toma um banho e um chazinho morno. Assim que sair do consultório, passo aí. Tá bom ?
- Tá. Mas não me abandona.
- Deixa de drama Lú. Até depois. Tchau.
Há, meu Deus, o que será que aconteceu agora. É a milésima vez que ela manda o pobre do Calógeras passear, pensou a analista preferida de Lucrécia."Bom, mas onde estávamos, seu Antônio ? Fale-me mais a respeito do sumiço da sua roupa do Batman..."
Em casa, já de banho tomado, Lucrécia saboreia o chá morno. "Hum, esse chazinho de erva-cidreira dá uma molezinha. Acho que vou tirar um soninho."
Enquanto a lua dá um tchauzinho ao sol, Monalisa - a analista - com ouvidos e mente transbordando pela quantidade de neuroses ouvidas no consultório, mas preocupada com a amiga, bate à porta de Lucrécia. Ninguém aparece.
Bate novamente e nada. Desconfiada, cola o ouvido à porta. Tem a impressão de estar ouvindo gemidos. Num misto de pavor e curiosidade, corre até a janela. Em meio a cortina entreaberta consegue ver Calógeras nú, com uma cinta-liga de cetim vermelha na boca e engatinhando na direção de Lucrécia que, miando gritava: vem meu cachorrão, vem meu cachorrão...
Tomada por uma cólera incontida, a doutora Monalisa atira-se contra a janela - que por sorte estava aberta - o que para ela era irrelevante tal a fúria que dela se apossou.
Atônitos, Lucrécia e Calógeras assistem a cena apavorados.
- Então tu liga para o meu consultório, me deixa nervosa e eu, mesmo cansada de tanto ouvir neuras o dia inteiro corro para cá e vejo vocês se divertindo ?
- Calma Mona, calma, diz Lucrécia. O Cacá já me explicou tudo.
- Não me chama de Mona. Agora é doutora Monalisa; sem intimidades. E quem exige uma explicação sou eu !
- Doutora, o Cacá me explicou que o e-mail que ele me passou veio por engano.
- E daí, que e-mail é esse ?
- Um e-mail onde é apresentada uma pesquisa de uma universidade que diz que as bolsas das mulheres, por serem levadas a banheiros públicos ou deixadas no assoalho dos carros ou ainda em outros lugares pouco recomendáveis, ficam cheias de bactérias. Tem até os coliformes... Como é mesmo Cacá ?
- Cocô, Lú.
- Pois é, até cocô tem nas bolsas das mulheres.
- E tu ficou braba com isso; terminou com o pobre do Cacá; interrompeu uma consulta no meu trabalho; me deixou preocupada e me fez vir correndo prá te ver !? E chego aqui e me deparo com vocês dois na maior festa !
- Desculpa, Mona.
- Doutora !
- Desculpa doutora, mas é que o Cacá me ligou e me explicou que o e-mail veio por engano prá mim.
- E assim tudo ficou bem de novo ?
- Sim, o Cacazinho disse que aquilo é verdade mas que não se refere às minhas bolsas; só às das outras mulheres.
- O quê !? Calógeras seu filho da puta, gritou a doutora Monalisa, já perdendo a compostura. Examina a minha bolsa, urrava a psicanalista, enquanto disparava atrás do pobre homem que, nú, tentava esquivar-se da bolsa cheia de fivelas. E de coliformes fecais.

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