quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Pagode mauricinho: quando o suicídio até parece uma opção razoável !


O que pode ser pior do que um grupo de pagode mauricinho tocando em frente a sua residência ?

Pergunto e eu mesmo respondo: um grupo amador de pagode mauricinho tocando em frente a sua residência.

Quem nunca passou por isso ? Você não ?

Então aguarde; a sua hora vai chegar, pois assim como há uma certeza estatística de que todos um dia seremos assaltados; podem colocar na relação de eventos inexoráveis a audição compulsória de um grupo amador de pagode mauricinho se "apresentando" em frente a sua moradia. Tudo bem, dito assim até parece ameaça. Mas não é; trata-se de um alerta. Tão somente isso.

Mas como tudo tem um início, o fácil acesso aos instrumentos básicos é a porta de entrada desse inferno sonoro. Até vou abrir um parênteses: dizem que para chegarmos ao inferno temos que cometer alguns pecadinhos antes. Aí fico pensando: sendo a luxúria, por exemplo, um dos pecados que poderiam nos condenar a passar a eternidade cheirando a enxofre, o inferninho até nem parece tão ruim assim. Pelo menos curtimos antes, não é mesmo ? Mas no caso em questão não. Quando os caras começam a tocar, o tridente infernal fica ali nos cutucando o tempo todo sem ao menos termos usufruído as delícias da curtição de nossas atividades pecaminosas. Ou seja, somos condenados sem termos cometido crime algum; nem um réles pecadinho Tenham a santa paciência; assim não tem graça. Fecho parênteses.

Voltando às facilidades. Os caras fazem uma vaquinha e compram os instrumentos básicos: tantan, surdo, pandeiro e repique de anel; descolorem o cabelo, colocam um vistoso óculos de sol na testa, penduram um correntão no pescoço e acham que com isso viraram músicos. E para piorar, como nenhum instrumento é elétrico, dá para tocar onde quiserem. E aí é um salve-se quem puder: qualquer lugar é lugar e qualquer hora é hora. Reúnem-se quando e onde quiserem e começa o espancamento, cada qual tentando tocar mais alto do que os demais. Óbviamente ninguém nunca os avisou que os instrumentos devem complementar-se e não sobrepor-se. E para melhorar a base fica o tempo todo no ritmo de charangas, daquelas que se ouve em partidas de futebol, sempre com as mesmas inversõezinhas simplórias que, mesmo em pagodes exigem uma certa sofisticadazinha mínima. Não dá prá ficar sempre no tantantan....tantantan. Compreenderam ? Vocês sim; eles não.

Mas eles não querem nem saber, afundam as mãos sem o menor pudor e dane-se quem estiver por perto. E nem precisa estar tão perto assim. Entretanto como desgraça pouca é bobagem, o que está ruim sempre pode piorar, mesmo que pareça impossível. Como ? Simples: nessas rodinhas de violência musical sempre tem os que ficam no entorno. Lá pelas tantas sempre tem um enchendo o saco para tocar um pouco. Aí sai golpe de caratê no pandeiro, voadora no surdo e por aí vai. Loucura total. E assim os "artistas" ficam horas e mais horas tocando num ritmo só. Claro, estou sendo benevolente ao considerar a possibilidade da existência de um.

Olha, a tosquice é tão grande que os tradicionais três acordes do punk rock passam a parecer complexos arranjos sinfônicos quando comparado ao que os pagodeiros mauricinhos executam. E não pensem que exagero; a coisa é grave mesmo.

E tem mais, além da parte instrumental existe a vocal, é óbvio, e que consiste no seguinte: duas frases com rimas miseráveis que precedem intermináveis coros de lalaiás. Podendo, vez ou outra, serem substituídos por lêlêlês. Simples assim. Não há risco de esquecer a letra. Salvo lá pelas três da manhã quando várias músicas são transformadas numa única; não só no que se refere às letras mas também na parte instrumental. Aliás aí reside outra característica bastante comum nestas horas: cada "músico" toca a música que passa na sua cabeça no momento, independentemente do que tocam os demais. É um desentendimento geral que só quem está a uma certa distância nota, considerando que não tenha se suicidado ainda.

Mas engana-se quem pensa que acabou. Maquiavélicamente deixei para o final o detalhe mais irritante em qualquer banda amadora de pagode mauricinho: o cavaquinho. Se por acaso um cavaquinho cai em mãos de um aprendiz, aí meu amigo, caso ainda não tenha acontecido, o suicídio é inadiável. Não há nada pior do que cavaquinho tocado por alguém sem noção, com exceção de alguém comendo maçã de boca aberta ao seu lado. O cavaquinho é um dos instrumentos mais estridentes, infernais e irritantes que conheço, quando cai em mãos inábeis. Absolutamente a prova de qualquer isolamento acústico, simplesmente ultrapassa qualquer barreira; invade os canais auriculares sem a menor cerimônia e fica ali reverberando. Interminável e dolorosamente. Eu arrisco até a dizer que se os adeptos da teologia do medo tivessem me dito que, ao invés do tridente o diabo toca (mal) cavaquinho por toda a eternidade, eu me confessaria todos os domingos e não olharia mais para a bunda de ninguém. Bom, mas nem vou dar a idéia pois já tem crianças demais sendo aterrorizadas por padres, pastores e afins neste exato momento. Pobrezinhas.

Para finalizar vou dizer bem baixinho: se eu tivesse inimigos certamente contrataria um desconjunto desses para que passassem uma tarde de domingo tocando em frente a casa desses desafetos. Ah, seria uma doce vingança. Mas como não os tenho, acho que vou mandá-los de presente a alguns políticos e membros de nossas gloriosas elites que andam por aí impunemente. Sei, existem muitos que mereceriam; mas não menosprezem a capacidade de multiplicação de pagodeiros mauricinhos. Seu número é tão grande quanto os necessários para encherem o saco de todos eles. Sei não, vou pensar no assunto. Mas se você tem inimigos; fica a dica.

Um comentário:

  1. Simplesmente, amei o texto! Também já vivi a mesma situação! Adorei! Adorei! Adorei! Se quei zer conhecer os meus textos também:
    http://odiariodehellen.zip.net/

    Bjss, Hellen

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