segunda-feira, 13 de julho de 2009

Histórias curtas IV - Os tomateiros e as tulipas amarelas

Os tomates destoavam em meio a plantação de tulipas amarelas. Destoavam não é a palavra certa. Na verdade, ambas cores quentes coexistiam, dando ao terreno ares de de tempestade de fogo naquelas tardes onde o vento as fazia dançar aos pares.

No horizonte nuvens lacrimosas preparavam-se para derramar lamentações de Radiohead. Pela janela os olhos do pintor percorriam a cena enquanto a mente transitava por outros quadrantes, procurando motivos para preencher o branco da tela, que a cada momento agigantava-se mais em seu niilismo desafiador. A busca pelo novo o atormentava intensa e incessantemente. Mais um gole de vinho, mais um cigarro e nada. Absolutamente nada. Um turbilhão de imagens o levavam de um lado ao outro do pequeno quarto de pensão. Mil coisas na cabeça é o mesmo que nada. É preciso um foco, repetia para si. É preciso um foco.
Tudo o que já foi criado eu conheço. E isso é básico. Não há como inovar sem conhecimento do que já fôra feito.

Durante anos a fio permanecia este dilema a torturar nosso amigo pintor. Dia após dia; noite após noite. "Preciso criar algo novo; preciso ser original, ser the best". Ser o melhor; destacar-se; entrar para a história; alcançar o reconhecimento conforme os paradigmas estabelecidos ou, quem sabe, rompê-los, tudo isso dilacerava profundamente nosso candidato a herói. E o tempo passando. Dias cada vez mais iguais, e a angústia aumentando mais e mais e, com isso, outras possibilidades ficando, na mesma razão, mais distantes, mais invisíveis, menos perceptíveis.

Mas naquela tarde tão ensolarada quanto ventosa, debruçado sobre o parapeito da janela pegou-se a observar o bailado das tulipas amarelas e dos tomateiros. Estes pareciam abraçar as tulipas com a intensidade dos casais apaixonados embalados pela sinfonia do vento. Aos poucos tímidas lágrimas de alegria foram invadindo sua face antes tão torturada. E com elas o alívio do martírio que carregava. Finalmente dera-se por conta do terrível engano que cometera. Tantos anos buscando o lugar mais alto do podium enquanto a felicidade estava ao alcance dos seus olhos. A beleza estava ali à sua frente. Cabia-lhe apenas capturá-la e transpô-la às telas da forma como via. Ali residia a essência de seu ofício. Apenas isso. Definitivamente, medalhas de ouro são apenas horizontes para quem se deixa levar pela vaidade.

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