segunda-feira, 20 de julho de 2009

Histórias curtas V - A lua nunca mais foi a mesma.


Há quarenta anos os caras acabaram com romantismo.

Na ocasião, com cinco anos assisti, num misto de perplexidade e fascínio, o que estava sendo exibido ao vivo para o planeta inteiro. Pelo menos era o que diziam. E a coisa era muito fantástica. Minha cabeça de criança havia decolado. Eu estava eufórico, até onde me lembro. Se bem que quase todos estavam. Infantilmente eufóricos Quase todos. Alguns não acreditaram. Não os culpo. Era demais mesmo.

Bom, mas em casa só tínhamos um imenso rádio. Muitíssimo bom. Mas ele não era mais suficiente para descrever o que acontecia. Escutar era bom, mas era preciso mais. Era preciso ver. Nunca ver fôra tão imprescindível. O jeito foi corrermos até a lancheria do Seu Nelson Zadra. Lá havia uma tv. Bendita tv. Chegando lá, havia uma platéia compatível com comício do Brizola - que na época era um acontecimento. Burburinhos desconexos prá lá e prá cá. Uns maravilhados; outros dizendo que era coisa de cinema. E os ânimos se exaltando... Lá pelas tantas o seu Nelson - que de bobo não tinha nada - pegou o "respeito" que guardava atrás do balcão e bateu com força na mesa:"quem quiser assistir que fique em silêncio !" Mas como no Brasil ninguém dá bola na primeira ameaça, o Seu Nelson bateu com o velho taco de sinuca no balcão novamente e mandou ver: "quem não quiser...". Silêncio geral. Azahhh Seu Nelson.

Alheio ao rebuliço, nada me desviava os olhos da televisão. E lá estavam eles descendo daquela coisa esquisita. Parecia uma aranha. Caminhavam prá lá e prá cá, pulavam, gritavam e eu ali. Olhos estaladaços. Os caras estavam...na lua. E cravaram a bandeira deles...

Acabou o romantismo.

A lua nunca mais foi a mesma. Nunca mais...

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