sexta-feira, 24 de julho de 2009

Se for prá mim, não tô.


Se for prá mim, não tô.
Estou falando de telefone. Como está perigoso falar ao telefone.
Viram a última do clã Sarney ? Uma meia dúzia de ligações foram o suficiente para flagrar o vovozinho marimbondo tentando arrumar um empreguinho pro namorado da netinha. E olhe o rebuliço que tá dando. O que é isso ? Vê se pode: um avô preocupar-se com o futuro da filhinha de seu filhinho é crime ? Claro que tô brincando. A trampinha envolve dinheiro público, e este é sagrado. Pelo menos deveria. Além disso, ficamos sabendo da existência de mais um filho do Sarney e da netinha do vovozão. Ou seja, a família não pára de aumentar e daqui a pouco o Maranhão vai ficar pequeno. Que medo. Vou até me desviar um pouco do assunto telefone. Depois refaço a ligação.

Olha só, as vezes as pessoas falam que pobre põe muito filho no mundo e isso só faz aumentar a pobreza. Vou pegar a coisa pelo outro lado. Fodão mesmo são os velhos (e novos) coronéis da política nacional que tem uma prole extremamente numerosa. E o pior, normalmente seguem a profissão dos precursores e se metem na política. Ocorre que os mais velhos vão criando toda uma rede de influências que vai sendo repassada aos sucessores, que só farão aumentá-la. Então as famílias vão montando uma teia de poder que, normalmente, não faz distinção entre as esferas pública e privada. Aliás essa é uma característica bastante comum em nossas elites. Mas cuidado, não são só os políticos que misturam a esfera em que deveria atuar - a pública - com a que deveriam ficar de fora - a privada. O caminho inverso também é freqüente. Pessoas da esfera privada que imiscuem-se na esfera pública construindo também suas teias e suas correspondentes relações de poder.
Mas voltando aos políticos, olha o caso do ACM. Com exceção dos baianos, todos o odiavam. Mas ele já tinha seu sucessor: o filho Luís Eduardo -cujo destino político foi abortado pela morte precoce. Mas restou o malvadezinha neto, se é que não existem outros. O Sarney estamos todos vendo. A cada enxadada salta um Sarney. Impressionante. E cada um dando uma locupletadinha amiga. Cada um a seu modo, afinal de contas há que se ter personalidade. E quanto mais familiares na política. mais poder político é auferido pela família. Bom, mas o que não podemos esquecer é que concentração de poder político redunda em maior poder econômico, que aumenta o poder político e, assim, o círculo se auto-alimenta. E sabemos todos, só o que essa gente faz é distribuir riqueza entre os seus. O povo ? Tadinho do povo. Então, ou fazemos controle de natalidade no seio de nossas oligarquias políticas ou que não se vote em seus sucessores. Claro que tô brincando em relação ao controle de natalidade deles, mas não à segunda parte. Preconceito ? Não. Conceito prévio. É diferente. E não adianta ficar de cara só com a família Sarney. Prestem atenção e vão descobrir uma quantidade enorme de famílias tradicionais existentes na política brasileira: os Maia, os Alves, os Mestrinho, os Sarney, os Amim, os Germano, os Barbalho e tantas outras que não lembro agora. Ah, tem um detalhezinho: repararam que todos os citados pertencem a partidos conservadores, para não dizer reacionários ? Coincidência ? Mas alguns dirão que o Lula está de braços dados com vários deles, o que é verdade. Mas trata-se do que estava dizendo. A influência dessa gente é muito maior do que o saudável a qualquer sociedade. Sem querer inocentar o Lula, que tá passando as medidas neste caso.
Mas refazendo a ligação - belo duplo sentido hehehe - telefone virou mesmo um artefato tão perigoso que na CPI do Detran aqui do Rio Grande do Sul grampearam uma série de telefones. Nem todos tinham a noção do perigo que corriam e deitavam falação. A exceção foi um carinha que tinha a exata noção do risco. Quando seu interlocutor falou detalhadamente numa suposta distribuição de dinheirinhos, o esperto do outro lado da linha foi bastante claro: "como assim ? Por telefone eu não entendo isso; por telefone eu não entendo..." Vejam só, a capacidade de compreensão dele estava ligada diretamente ao meio pelo qual se comunicava. Já outros ficavam eufóricos, largadões, bem a vontade: "e aí, como vai essa liderança ?" e patati patatá.
Bom, eu não falo mais ao telefone. Imagina se alguém intercepta uma ligação onde mando beijinhos prá minha querida sogra ? Como é que eu fico ? Como é que eu fico ? Vai direto pro Jornal Nacional, com legenda e tudo. Então, nem ligue. Se for prá mim, não tô...mande carta.

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