terça-feira, 10 de novembro de 2009

Nem só alunos da Uniban apedrejam Geisy Arruda !


Quando fiquei sabendo da história da barbárie cometida contra a aluna Geisy Arruda, 20, da Uniban - Universidade Bandeirantes, há algumas semanas, de imediato pensei em escrever um sem número de impropérios direcionados àquela turba careta e reacionária que nos oportunizaram ter uma idéia viva do que deve ter sido a Inquisição Espanhola. Lembrando que além dos alunos, pelo menos um professor condenou a moça por usar roupas ditas indecorosas; e a própria reitoria num primeiro momento preferiu trepar (seria uma palavra indecorosa ?) no muro e lavar as mãos. Mas duas questões me detiveram: o ensinamento do mestre Prof. Ivaldo Gehlen que, numa prova de Sociologia da Agricultura em que dei um "pau" nos latifundiários, aconselhou-me a ser menos voluntarista e fixar-me a uma análise mais racional e argumentativa. Como na ocasião a vontade era de chutar o balde, lembrei-me do professor, puxei o freio-de-mão e limitei-me a xingar aquele bando de... a cada oportunidade em que as imagens eram reprisadas na televisão. O segundo motivo foi o de que muito já estava sendo dito sobre a questão. Logo, provavelmente seria repetitivo.
Bom, mas de lá para cá um sem número de abordagens sobre o fato foram feitas e muitas idas e vindas aconteceram; inclusive com a inacreditável atitude da Uniban de expulsar Geisy. Posteriormente, em função de pressões a universidade desistiu do absurdo.
Neste contexto, hoje pela manhã o Programa Polêmica da Rádio Gaúcha resolveu debater o tema. Para quem não conhece, o programa funciona assim: alguns especialistas pertinentes ao tema escolhido são reunidos para debatê-lo. Ao mesmo tempo o programa lança duas alternativas dicotômicas e os ouvintes, pelo telefone ou pela internet, anônimamente informam a alternativa com a qual mais concordam. A interatividade se completa com mensagens via e-mail, fax e telefone, nas quais os ouvintes dissertam sobre seus pontos de vista e, além disso, uma rápida enquete é realizada com algumas pessoas em algum ponto da cidade.
No programa de hoje as alternativas propostas foram:
a) a universidade agiu corretamente ao expulsar a aluna, e
b) a universidade acertou ao cancelar a expulsão.
Dois fatos me chamaram a atenção: o primeiro foi o de que foram raras as mensagens enviadas por mulheres condenando a expulsão por parte da universidade, obviamente concordando com a barbárie toda, quando o esperado era uma reação contundente ao fato. Pelo menos era a minha expectativa já que a agredida era uma mulher. Não aconteceu. Restou um silêncio muito eloquente.
O segundo foi o de que o resultado final da pesquisa interativa revelou um empate técnico. Ou seja, quase a metade das pessoas acharam correto o que aconteceu.
Claro que estes sinais não são emitidos por uma pesquisa com metodologia científica, mas também não deixam de revelar uma certa tendência. Noves fora, ao menos dá para inferir provisoriamente que uma parte da nossa sociedade faria o mesmo que os alunos da Uniban. E isto me parece um dado novo. E absolutamente assustador.
Qual a explicação ? Certamente deve haver mais de uma razão e, portanto, mais de uma hipótese a ser investigada. Uma primeira linha de raciocínio talvez deva levar em conta uma certa alteração dos padrões de moralidade socialmente aceitos. E parte da explicação dessa alteração pode passar por uma espécie de fundamentalismo religioso que vem sendo disseminado a passos largos no meio de nós. Mas isso são conjecturas. Apenas isso. Mas que se faz necessário um estudo urgente sobre a questão não resta dúvida.

Há, mas tem mais uma coisa interessantíssima: há muito se fala de que a solução para tudo passa pela educação. Os políticos adoram utilizá-la como plataforma eleitoral. Mas nunca dizem que tipo de educação; qual o objetivo a ser atingido, etc. e tal.
Pois bem, a questão é a seguinte: não adianta apenas encher carteiras escolares com bundas. O cara pode passar por todas as etapas escolares, graduar-se em qualquer coisa e sair da universidade até como um grande especialista em qualquer coisa...e ser um cidadão de merda, com uma visão de mundo que não ultrapassa as fronteiras de seu próprio umbigo. Os conservadores adoram esse tipo de educação. E detestam quem preconiza outro modelo. Dizem que este tipo de mudança na educação ideologizaria a educação. Como se alienação não fosse produto de uma escola ideologizada.
Mas vejam só a ironia: alguém percebeu que toda a barbárie se passou no interior de uma instituição de ensino superior ? Claro, todos vimos. Mas então aquelas ricas criaturas passaram no mínimo doze anos achatando suas bundas e mentes em bancos escolares, e o resultado foi aquilo ?
Tudo bem, concordo que educação básica é tarefa primeira dos pais, mas numa escola que forma cidadãos realmente pensantes será que teríamos tamanha barbárie ??? Pelo menos com tal aceitação ?
Agora, como mostrou a pesquisa do referido programa, a coisa é muito mais grave e profunda do que se pensa. Será que algum dia chegaremos a ter o apedrejamento público de pessoas que porventura tenham cometido os tais "crimes contra a moral e os bons costumes" ?
Alguém duvida ?

3 comentários:

  1. Nada mais normal a atitude da Universade., uma vz q somos um país dos absurdos.
    Este episódio me fez lembrar o tempo da inquisição.,onde eram recriminados com severos castigos, td oq fosse em desacordo aos olhos das pessoas q se diziam normais.
    Parabens, concordo plenamente com seu pto de vista.

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  2. Bela crítica. Fez barba, cabelo e bigode.
    Isso aí parceiro. Estamos juntos com a Rádio Web Underground Lágrima Psicodélica.

    http://minduimmateus.blogspot.com

    Grande abraço e parabéns pelo blog.

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  3. Olha eu conheço bem essa universidade Uniban, é perto da minha casa, e as pessoas que estudam lá, posso te dizer tranquilamente que ali é um refugo de maus estudantes (não quero levantar outra polemica!), não me compadeci com a moça e muito menos com a atitudes dos alunos e nem com a universidade. Todos se merecem.

    Um abç.

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