terça-feira, 30 de março de 2010

Quando a arte nos toca...

Em meio a multidão, que transitava nesta manhã como elétrons e prótons ao redor de seu núcleo particular - absolutamente sem contato - chamou-me a atenção alguém assoviando Jealous Guy, de John Lennon. Não consegui identificar de onde vinha aquela melodia, mas apesar do sol que derramava-se generoso sobre todo aquele universo de pessoas ensimesmadas, ameaçou abater-se sobre mim uma certa melancolia. Pensei driblá-la elaborando um raciocínio lógico.

Mas que raios de pessoas são essas - os artistas - que tem o poder de nos tocar com suas obras mesmo as tendo construído a décadas ou mesmo séculos atrás ? De onde vem essa fonte que os torna divindades cuja permanência beira o eterno ? Dei uma rápida especulada.

Muitos atribuem a eles inspirações quase que mediúnicas, a partir do que dariam forma às grandes obras. Não creio nisso. O artista é fruto também de árduo trabalho, muito embora nem sempre dele resultem obras transcendentes. Talvez a coisa se explique pela conjunção dos dois fatores e o que chamamos de inspiração confunda-se também com o conceito de sensibilidade acrescido de preparo intelectual. E a tudo isso junte-se a técnica. Mas como a técnica pode estar ao alcance de todos, ela, por si só, no máximo pode ser responsável por algo bem feito técnicamente. Provavelmente, então, tudo resulte da mistura de todos esses fatores. Mas isso não acontece todo o dia.

Voltamos, então, ao ponto de partida. Quem são essas pessoas cuja permanência supera as suas mortes físicas ? Simplesmente não sei. Mas um exemplo dá uma certa noção de sua dimensão. Certa feita dois pintores conversavam na praia quando um deles pegou uma enorme concha, maravilhosamente esculpida no formato de uma cabeça retorcida. Olhou-a e disse ao outro:. "Veja, a natureza levou milhões de anos para desenvolvê-la e nós artistas podemos criá-las quando e da forma que bem entendermos". Pois é, os artistas podem coisas que simples mortais não poderiam jamais.

Provisoriamente concluindo, é também essa inspiração, sensibilidade e capacidade de produzir significados e de re-significar o aparente que os torna tão necessários para completar o que de incompleto temos na nossa relação com o mundo, com a natureza, com nós mesmos e com o outro. E convenhamos, são capacidades que não encontramos a todo o momento; pelo menos não juntas numa mesma pessoa. Então, longa vida aos artistas, embora isso seja redundante frente à sua permanência que, como já disse, supera as suas existências físicas.

Mas como as obras artísticas, que para além do raciocínio lógico também invadem nossos sentidos, finda esta reflexão a melodia de Lennon em mim continuava melancolicamente presente; agora de mãos dadas com a saudade de John. E o sol se pôs, ao menos para mim, as dez horas desta manhã ensolarada.

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