quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Não-fumantes X fumantes: é preciso ser assim?

Uma verdadeira onda de histeria coletiva gradativamente tem tomado conta do Brasil – e se trata de um fenômeno que não se vê tanto na Europa quanto nos demais países latino-americanos. Na Argentina e em Portugal, por exemplo, as relações são muitíssimo mais civilizadas. Falo da intolerância crescente de parte de uma parcela significativa dos não-fumantes em relação aos fumantes.
Aparentemente impulsionada pela rejeição ao tabaco em face da sua indiscutível nocividade, mas que, se examinarmos as atitudes práticas das pessoas não-fumantes em relação a sua própria saúde, fica bastante claro que este apartheid guarda motivações nem sempre tão claras quanto parecem. Talvez seja movido por uma intolerância oriunda de possíveis traços autoritários de personalidade – mesmo que inconscientes - do que qualquer outra real motivação. Mas isto é apenas uma hipótese. De qualquer forma, este apartheid fica tão mais claro quanto cada vez se torna mais comum verificar que aos fumantes sequer é concedida a possibilidade de aplacar seus sofrimentos, resultantes da abstinência da nicotina e do alcatrão, em locais separados ou mesmo em prosaicas janelas. Os anti-fumo radicais parecem não se sensibilizar, simplesmente expelem os “fumantes-canalhas” dos prédios comerciais, pouco interessando se faz frio intenso, chuva ou calor saárico. Fodam-se, parece ser a mensagem; quem mandou serem viciados! Que fumem na rua! Sei não, mas não me causaria espécie se num futuro próximo os fumantes venham a ser apedrejados em praça pública, ao melhor estilo da República Islâmica do Irã. Falta apenas a primeira pedra... E ao que parece, mãos não faltarão.
Mas eu falava da inconsistência da afirmação da razão para a segregação em função da preocupação com a saúde que os fumantes passivos dizem ter.
Aqui no Rio Grande do Sul, por exemplo, 48% da população é obesa (no Brasil são 46%) em função dos péssimos hábitos alimentares e do sedentarismo contumaz, o que revela que a preocupação com a saúde não é tão evidente assim. E neste contexto, é bastante comum sedentários ostentando imensas quantidades de gordura abdominal – aquele tipo que se desloca facilmente às artérias, obstruindo-as – dando discursos ferozes contra os fumantes, do alto de uma condição moral que não tem; ou, ainda, hipertensos - beberrões confessos – cerrando fileiras ao lado dos histérico-xiitas. Os mais ferozes críticos dos fumantes que conheço são exatamente assim: desenvolvem hábitos/estilos de vida nada saudáveis, mas mesmo assim não se furtam em censurar quem fuma, radicalizando as relações. Obviamente o rabo dos outros é mais colorido, é claro. Aliás, essa é uma das características que em nada engrandece as pessoas: ausência de auto-crítica que, quando conjugadas com a incapacidade de examinar as questões para além da superficialidade, resultam no que aí está.
Outro exemplo que demonstra que a preocupação com a saúde é uma falácia: no inverno passado, com o vírus H1N1 ceifando vidas a todo o momento no sul do país, era absolutamente comum encontrar andares inteiros de prédios comerciais hermeticamente fechados, sem uma frestinha sequer pela qual o ar pudesse ser trocado. Onde estava a preocupação com a saúde? Enfim, exemplos de atitudes incompatíveis com quem se diz preocupado com a saúde abundam. Mas enfim...
Quanto aos ex-fumantes – que hoje engrossam o coro dos histéricos-xiitas – cabe apenas uma breve observação: a sorte deles é que quando fumavam ninguém fez com eles algo remotamente parecido com o que eles hoje fazem com os atuais fumantes. E olha que em suas épocas fumava-se até em elevador. Mais estranho ainda, os não-fumantes da época pareciam realmente não se importar sequer com o cheiro. Hoje até em lugares ao ar livre é bastante comum ver pessoas recriminando fumantes. Ou seja, pegaram os fumantes para Cristo.
De qualquer forma, não pretendo ser louco o suficiente para defender a tese absurda de que se deva fumar. O cigarro é extremamente nocivo à saúde; que isso fique bem claro. O que chamo a atenção é de que os níveis de dependência que o cigarro impõem amarras dificilmente superáveis. Quem diz são os especialistas. Portanto, também é uma questão de um mínimo de humanidade que se administre as relações de forma mais civilizada. Alternativas existem. A barbárie não é a única, como parece ser.

Por fim, neste conexto de relações conflituosas - e forçando um pouco a barra- pode-se dizer que surgiram duas novas categorias sociais: fumantes e não-fumantes. Construindo-se, então, uma linha a partir destes dois tipos-ideais e colocando-os um em cada extremidade, teríamos algo mais ou menos assim: numa ponta os fumantes e, na outra, os não-fumantes, sendo que a aproximação maior de uma e outra extremidade determina o grau de intolerância quanto a possibilidade de convivência civilizada entre ambos. Então, por um lado temos os fumantes radicais, que não admitem qualquer forma de regulação quanto ao seu vício e, do outro, não-fumantes que, por sua extrema intolerância, chamarei de histérico-xiitas. O ponto zero, indica um maior grau de civilidade nas relações do conflito de interesses de ambas as partes.
Em que ponto da linha você se encontra?

I____________________________0___________________________I
Fumantes........................Civilização................Anti-fumantes radicais...................................................... histérico-xiitas

2 comentários:

  1. Sou ex- duas carteiras de Marlboro/dia e protesto contra o fumo em restaurantes. Até porque depois do café ainda dá uma vontadezinha. Isso que faz mais de 15 anos...

    ResponderExcluir
  2. Ai cunhado, tu sabe que vivi a vida toda com fumantes, pai, mãe e irmão, e em criança achava super chique minha mãe fumando. Mas o que é muito ruim é o cheiro, pra quem não fuma o cheiro é muito forte e fica na nossa roupa e no cabelo. Semana passada a Natinha foi com minha mãe visitar minha tia que fuma dentro da casa dela, óbvio né. A guria voltou de lá super tarde e pediu pra dormir comigo um pouquinho, o cheiro de cigarro no cabelo dela não deixava essa grávida enjoada aqui dormir. Coloquei a guria no banho quase meia noite!

    De resto eu tenho certeza que é muito muito difícil parar, e cada um sabe onde lhe aperta o sapato, afinal eu não largo minha coca zero por nada no mundo, mesmo sabendo que é uma porcaria viciante.

    beijoca

    ResponderExcluir