terça-feira, 23 de junho de 2009

De cara



Hoje vou escrever de sopetão, sem escolher palavras. Neste caso o fígado transferindo palavras aos dedos e estes maltratanto o teclado. E era isso. Não tem outro jeito. Tô de cara.

É o seguinte: no prédio onde trabalho não é permitido fumar. Então o negócio é pegar o elevador e descer e subir, descer e subir, descer e subir... Foda-se, os caras acham que o ar vai melhorar. Tá bem. Mas não adianta só isso. Tem pessoas cujas presenças asseadas e que não liberam fumaça tóxica impregna os rescintos de qualquer jeito. Assim mesmo, só pelo fato de existirem. Sei, fiquei meio amargo, mas não dá prá ser diferente.

Bueno. Aqui nas redondezas tem um morador de rua muito legal e que é meu camarada. Hoje ele chegou até mim para bater um papinho rápido e fumar um cigarrinho junto. Só que ele apareceu com um olho completamente inflamado e roxo. Perguntei o que havia acontecido. "Ontem eu tava dormindo (na calçada - que é pública) e me acordei com pontapés nas costas. Me levantei e tomei um soco na cara". Mas como ? "É, o motorista de um diretor me agrediu sem mais nem menos". E tu não pensou em reclamar numa delegacia ou coisa parecida ? Mas como, disse-me ele, "o motora é ex-rato e tu sabe bem que ex-rato normalmente é ladrão. Deve ter sido expulso da corporação. Eu ia apanhar mais ainda". Bom de raciocínio, estabeleceu rápido as relações a respeito do agressor.

Pois é, não é preciso dizer que ninguém tem o direito de agredir alguém, menos ainda covardemente. Pior ainda quando motivado por um preconceito estúpido. E o cara não incomoda ninguém (mesmo se fosse o contrário seria inadmissível), muito pelo contrário, é tri bom conversar com ele. Bom, obviamente estou escrevendo em cima da versão que me contou. E não tenho motivo algum para não acreditar nele.

Seguindo o barco, deixei para o fim a referência sobre quem teria sido o mandante: um certo diretor de uma certa financeira. FINANCEIRA. Sim amigos, aquele tipo de empresa que oferece um dinheirinho e depois cobra dois ou três dinheirinhos. E se tu não tiver, quebra tua vida no meio, sem perdão. Sim, aquele tipo de gente que até no período mais obscuro da humanidade - a Idade Média - eram mal-vistos. Hoje, se deixar, vão a Igreja e ainda comem aquela bolachinha que o padre diz ser o corpo de Cristo e voltam aos seus lugares com as mãos juntas e com uma expressão facial de muito sofrimento. Claro, padecer é garantir um terreninho junto às estrelas.

Mas não, isso pouco importa. Nem adianta lembrar que o capital financeiro é hoje o setor mais reacionário da humanidade. São eles que nos enfiaram goela abaixo a história do neoliberalismo (aquela coisa toda). Agora a crise tá foda e os caras vieram pedir penico pro Estado. E nesse papo todo, nos ferramos. Mas deixa prá lá. Só tô falando nisso para ilustrar o local de origem da rica criatura que mandou agredir. Até parece que não tem nada a ver com a condição do agredido.
Não, não espero que o cara seja capaz de se dar conta de sua culpa pela vida difícil do cara.
Não, ele não queria amendrontá-lo para que saísse dali pois sua presença incomodava sua consciência.
Não, a motivação deve ter sido estética, por nojo ou qualquer outra razão que não consigo apreender pois não consigo entrar em sua cabeça, que está pouco acima de seu colarinho branco de titâneo.
Mas ainda há uma especulação a fazer: talvez não queira que aquele inofensivo e indefeso ser possa alertar os clientes de sua empresa, de que quem pede socorro a financeiras sempre corre o risco de vir a se tornar um morador de rua. E talvez amanhã possa ser agredido por um capitão-do-mato mandado por quem ontem, com aquele sorriso tão simpático quanto maquiavélico, lhe "concedeu socorro".

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