quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ninguém



A ninguém os paralelepípedos tanto procuravam suavizar os pés carcomidos;
A ninguém o jacarandá da praça cedia suas sedosas folhas outonais com tal carinho;
A ninguém a lua zelava com tamanha tristeza;
A ninguém as folhas de jornais se esmeravam tanto em aquecer;
A ninguém os bancos da praça entortavam-se para ceder o conforto que não tinham;
A ninguém os dias pareciam tão iguais;
A ninguém as noites eram sempre tão longas;
A ninguém o cãozinho vira-latas dedicava tanta fidelidade;
A ninguém eram lançados tantos olhares de desconfiança;
A ninguém o frio calava com tal intensidade;
A ninguém a chuva encharcava de tanta felicidade nos tórridos verões;
A ninguém a chuva cortava tão impiedosamente na intensidade invernal;
A ninguém a aguardente aquecia tanto;
A ninguém o coração carecia tanto de ocupação;
A ninguém a indiferença de seus semelhantes calava tão profundamente;
A ninguém a solidão estava sempre tão presente;
A ninguém o esquecimento era tão lembrado;
A ninguém as lembranças eram tão distantes;
A ninguém cabia sentir-se tão...

ninguém.

Um comentário:

  1. Acabei de ver esse vídeo: http://www.rainhasdolar.com/index.php?itemid=3465#c

    tu já viu?

    Déia

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