terça-feira, 1 de setembro de 2009

Religião é coisa para gente grande. Deixem as crianças fora disso !!!

Novamente está em pauta a questão do ensino religioso nas escolas públicas. Nas privadas muitas já o tem em sua base curricular. Mas este é só um mote para a questão que realmente quero tratar: a influência negativa, quase criminosa que as religiões podem ter na formação intelectual e emocional das crianças.

Fui batizado na Igreja Católica, com direito a catequese e primeira comunhão. Tudo nos conformes. E a prova do crime é uma foto em que me encontro vestido com uma calça de tergal azul, camisa branca, franjinha caindo nos olhos e com uma das mãos segurando uma vela acesa e um terço. E na mão direita o livrinho da catequese. Uma obra. Felizmente não fui crismado por falta de pagamento das mensalidades que a paróquia exigia. O Seu Milton, meu pai, soube avaliar a situação e direcionou nossos recursos às carências mais prementes. Saber estabelecer prioridades é importantíssimo. E ele foi sábio, em sua simplicidade. Adorei, assim escapei de mais uma seção de terrorismo. Claro que meus pais pensavam estar fazendo o melhor para mim quando esta trajetória me foi imposta. Mas não estavam. Poucos pais teriam, na época, condições para se dar conta de tudo o que envolve a formação religiosa de uma criança, sobretudo no que se refere a uma verdadeira pedagogia do terrorismo psicológico a que as crianças são submetidas em tais circunstâncias. Mesmo hoje, poucas são as pessoas atentas a tais questões.

Longe de querer esmiuçar toda a complexidade, se observarmos apenas alguns aspectos centrais do cristianismo tal qual é pregado, já é mais do que suficiente para tirarmos algumas conclusões sobre a contundência a que muitas vêzes inocentemente submetemos nossas crianças . Aliás, a própria expressão "pregar" já é auto-explicativa. Está lá no Aurelião: como verbo transitivo direto e indireto, pregar significa introduzir à força; cravar; fixar; fazer acreditar, iludindo. Já repararam que nunca tivemos tantos pregadores como na atualidade ?
Voltando aos aspectos de que falava a respeito da doutrina cristã - sobretudo a abordagem católica, que é a que conheço - tal qual é pregada pode ser resumida da seguinte forma: trata-se de uma doutrina de certa forma sadomasoquista pois propõe a salvação, o alcance do paraíso somente aos que sofrem. Lembrando que sadomasoquismo é o prazer alcançado através da dor física e/ou moral. Acham que estou exagerando ? Sigamos mais um pouco. É ou não verdade que nos é proposto que exista uma espécie de Deus onipresente e que a tudo vê ? E o pior, que fiscaliza nossos atos o tempo todo para que depois sejamos cobrados na hora do juízo final ? Mais ainda. E que se não "passarmos" pelos critérios propostos estaremos condenados à danação eterna ? Por danação eterna entenda-se o fogo do inferno e o diabinho gargalhando em nossos ouvidos por toda a eternidade. Só um parênteses: para mim nem precisaria fogo e diabinho. Bastaria um grupo de pagode mauricinho. Desses que rimam beijo na boca com coisa louca mais um monte de lalaiás. Parênteses fechado. Ora, se isso não se trata de um terrorismo psicológico da mais absoluta crueldade, não sei o que poderia ser. Mas como estou preocupado apenas com o que se refere às crianças, fico a pensar que efeitos devastadores podem ser produzidos em suas mentes ainda sem a capacidade de discernimento que nós, adultos, temos. Sobretudo até os sete anos, período em que, segundo os especialistas, a personalidade vai se cristalizando. Trata-se de uma aplicação intensa de napalm emocional.
Nos EUA grupos religiosos criaram as chamadas Hells House's. Isso mesmo, Casas do Inferno. Nelas, verdadeiras peças teatrais são montadas para que seja mostrado como o diabo adora que inflinjamos determinados comportamentos considerados pecaminosos. O astro protagonista das encenações é o diabo, é claro. Com guampinhas, cara de mau, rabinho, tridente e demais adereços. Ou seja, os religiosos, convictamente encharcados por seus preceitos, encenam diversas situações consideradas condenáveis à danação eterna. E o fazem da forma mais assustadora possível. Coisas do tipo, homossexuais como obra diabólica, mulheres abortando e toda uma série de comportamentos ditos pecaminosos. Tudo aos gritos e com o diabinho ali em volta incentivando que façam o que, segundo o entendimento deles, ele "gostaria" que fizessem. Coisa absolutamente horripilante. Deve ser um tanto quanto difícil dormir após assistir a tais encenações. Alguém deve ter tido a brilhante idéia de que mais do que pregar, encenar poderia ser muito mais eficaz. Não duvido. Essas casas existem aos borbotões há mais de vinte anos e o número delas não para de crescer. Detalhe: não é vedada a entrada de crianças. Ao contrário.
Pense bem: você deixaria seu filho assistir a uma peça dessas ? E a versão mais light, a pregação verbal ?
Pois é...
Outra situação absolutamente assustadora concentra-se em Jerusalém. Provavelmente não haja cidade mais obscura no planeta. Basicamente dividida em três partes, é impossível transitar de um lado para o outro sem que se sinta o poder da observação desconfiada dos adeptos de cada uma das religiões que lá se encontram presentes: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo. Ou seja, Jerusalém é praticamente dividida em três grandes guetos, cada qual pregando sua religião às suas crianças e semeando sua pretensa superioridade sobre as demais. Se forçar um pouco a barra, poderia dizer que não há muita diferença em relação aos métodos utilizados na formação da juventude hitlerista. É só trocar o mito da supremacia da raça ariana pelos mitos que cada religião propaga em relação à sua verdade e conseqüente superioridade sobre as demais. E as crianças no meio desta histeria toda.
Quem nunca viu imagens na televisão daqueles verdadeiros corredores poloneses a que as crianças irlandesas são submetidas ao entrarem em suas escolas. Ora são os protestantes, ora os católicos. Ambos a constrangerem e semearem o ódio às crianças do "outro lado". Claro que existem questões políticas de fundo, mas as religiões sempre servindo como elemento catalizador dos processos. Enfim, uma insanidade.

Claro que esse pequeno texto não pretendeu dissecar os dogmas religiosos. Apenas defendo a idéia de que religião é coisa para adultos, com discernimento suficiente para aceitá-las ou não. Criança é feita para brincar e crescer com naturalidade e não para serem convertidas compulsóriamente em algo que não tem a menor idéia do que seja. Mas os adultos sustentam que a formação religiosa também implicaria na afirmação de preceitos morais que poderiam ser positivos ao prepararem as crianças à vida em sociedade. Ora, as sociedades já criaram diversos consensos sobre o que se deve ou não fazer. Sinceramente não precisamos que escrituras oriundas de sociedades absolutamente diferentes das atuais nos digam que caminhos devemos trilhar. E muito menos embasar a educação de nossas crianças em tais dogmas.
E não custa lembrar que muitas escolas religiosas simplesmente omitem a Teoria da Evolução, de Darwin, apenas por contrariar a versão da Teoria Criacionista encontrada nas escrituras.

Finalizando, se quiserem saber se acredito ou não em Deus, digo em alto e bom som: sim, mas não nesse que me ensinaram.

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