quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Como criança abortada.

Como criança abortada experimento
o amargo gosto do revés.
Tráfego invertido na última hora,
por quem diz que fica
mas vai embora.
Sem sinal ou aviso
antes liso, agora cacos.
Vidros estilhaçados sob os pés,
descalços, mas sinceros;
sem promessas de fim de noite.

Se não for com certeza
não digo.
Prêmios de consolação
não ligo.
Nem espero,
rosa vermelha canalha.
Sentado esperando,
no meio-fio,
navalha.

Verso curto e seco.
Falso horizonte largo.
Luminárias penduradas,
à noite apagadas vira beco.

Largas janelas da confeitaria,
mesa comprida e farta.
Saliva no canto da boca,
como criança do lado de fora.

Sem amanhecer
agora
quando ontem ia.
Ao menos parecia.

E sem mais nem por quê
a lua não mais se pôs.

Agora sobras
da festa migalhas,
babadas e gordurosas,
patéticas e requentadas.
Pode até parecer
mas não é o que resta.

Sem desconfiar
mais um cálice
de vinho tinto,
amargo e seco;
de caixa de papelão,
vagabunda.
Se pensa que vou
acertou,
vou rimar com bunda.
Assim,
mesmo que o barco afunde.

E nessas condições
salta uma poesia vagabunda.
De novo,
mas com bunda
E quer saber ?
Se não quiser,
foda-se !